Execução do Projeto Outras Antropofagias Amazônicas
Mori Panton - Boas Histórias
Ações de Literatura e Patrimônio Cultural
terça-feira, 2 de setembro de 2014
terça-feira, 19 de novembro de 2013
Outras Antropofagias Amazônicas - Circulação Literária
O Projeto Outras Antropofagias Amazônicas já desenvolveu atividades de incetivo à leitura e à produção literária em Pacaraima e Uiramutã, no Estado de Roraima.
Agora se encontra na cidade de Parintins / AM, onde vem desenvolvendo ações em parceria com o Governo do Estado do Amazonas, através do Centro Cultural Amazonino Mendes - Bumbódromo, com a Prefeitura Municipal de Parintins, através das bibliotecas públicas Tonzinho Saunier e Vila Amazônia, e com a sociedade civil, através do Ponto de Cultura Tradição de Lindolfo.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
Outras Antropofagias Amazônicas
O Projeto Outras Antropofagias Amazônicas foi premiado pela Bolsa de Circulação Literária 2012 da Fundação Biblioteca Nacional / FUNARTE. Será desenvolvido nos municípios de Uiramutã e Pacaraima, em Roraima, e Nhamundá e Parintins, no Amazonas. O texto literário premiado foi Tu’kan pimi wî’po – Tem muita pimenta na serra.
Uiramutã - Roraima |
sábado, 4 de agosto de 2012
Tu’kan pimi wî’po – Tem muita pimenta na serra
Passa pimenta nos olhos menino, para
andar na mata. Curumim do Monte Roraima. Anda com cuidado, pede licença para a
folha do tajá. Passa pimenta nos olhos, em tuas feridas, forma tuas cicatrizes,
mas não laves a cuia suja nas águas do rio, que causa tempestade, atrai
assombração. Vai que em teu encalço está o Canaimé - outros canaimés - o
invasor de tuas terras. Passa pimenta, rapa tua cabeça e planta pimiro – pimenta do curupira. Planta em
teus olhos a sumaúma e a antena de celular, o orelhão da Embratel, os barcos a
motor que substituem tuas canoas. Chama Pedro Álvares Cabral, para redescobrir
estas terras, ou melhor, para cobri-las novamente, restaurando tuas florestas,
redeflorando tuas iracemas. Chama o Senhor Pero Vaz de Caminha, com seu
notebook, pra que escreva outras notícias, as novas - um poemail para o Império.
Em meio à 41ª assembleia indígena, no
idílico Lago Caracaranã, uns malucos fumavam maconha, enquanto todos tomavam
seu banho matinal. O Caracaranã começou a sorrir sem parar. Suas ondas bailaram
muito. Escutou-se um burburinho na água - Splop! Splop! - mini redemoinho de onde
pulou um Peixe-Deus, e gritou: Vai Corinthians! Macunaima retornou do sul, com
sotaque e escamas paulistas. Trouxe com ele a FUNAI, o SUS, e outros benefícios
sociais. Depois vieram os tambores do Maranhão, una cosita o otra del Caribe e o Hare Hare Georgetown. A assembleia
deu noticias ao Peixe-Deus: “Lá pra baixo tem uma cidade, está crescendo”. Eles
reclamaram: “Macunaima mudou o mundo, e voltou mudado por ele. Lembra-te de teu
povo revoltado. Pra quê tanta gente que subiu? Extremo-norte?” Macunaima saiu
acuado; fugiu para encontrar resposta ou solução.
Quantas línguas tu tens na cabeça,
menino? Profusão de etnias. Rápido, passa pimenta, curumim, te protege! Busca
tua panela macuxi para trocar com teu parente, do outro lado da fronteira. That’s good! That’s vey good! Deixa cair
de teu cocar a pena, que para os lados de lá[1] há
pena de morte. Noutros tempos Sir Arthur Conan Doyle também andou por aqui.
Veio, como outros literatos, prender teu parente nas páginas de um mundo
perdido.
Segue a rota mítica criada por teu Deus-Menino, levado, zombeteiro. Rega novamente a árvore da vida – Wazaká – árvore de todos os frutos. Na tríplice fronteira ergue tua bandeira, folhas de bananeira, leva teu arco e flecha, e não esqueças o GPS. Reza para teus deuses, se quiser escolhe deuses alheios, mas solta teu grito de Hallelujah! Areruia! Areruia![2] Dança em roda, mede teus passos pelos passos de teus parentes. Convide karaiwá pra provar tua carne de caça, a carne da batata da perna do curupira que caçaste.
Malagueta murupi olho-de-peixe, pede licença para o dono dos bichos, para o dono dos peixes. Pede licença ao IBAMA para fazer tua roça, para retirar a palha de tua maloca. Toma consulta aos pajés, aos tuxauas de tua aldeia. Toma consulta aos órgãos federais, consulta seu CPF, seu saldo devedor. Esconde-te, vai chover, nuvens de tags revoam sob tuas terras. São as ressonâncias de nossa alta tecnologia ancestral. Sapos Om line ressoam um mantra para viagens estáticas.
Macunaima? foi atrás da grande mestra, aquela Boiúna de outros contos. Lá encontrou tudo mudado, maracás mecanizados, e a dança do calypso. Nos barcos e portos índias ofereciam serviços aos gringos - “I love Brazil!”. Ao mesmo tempo, o povo dali reclamava da Cobra Grande: “Nossos mitos nos traíram! Pega! Ou foram nossos poetas?” Os dois empinaram a cabeça para o outro lado, e foram se esconder na casa de Norato, que após deixar o corpo de cobra se tonou puxador do Caprichoso. Depois do Festival os três amanheceram em um poema de Manoel de Barros.
Macunaima voltou? Está novamente modificando o território, como fazia nos tempos antigos? Ah! Não! Não é Ele. São as hidrelétricas. Poraquê[3] entrou pelos fios de alta tensão e trouxe estas notícias. Amigo, menino, tua rota mítica está perdida, destruídas tuas memórias. Tuas águas envenenadas, dejetos de mercúrio. Teu tamanduá virou gari nas estradas. Todos sonham com a cidade - teus parentes aprendendo a esquecer nas escolas! A bíblia vai te ensinar a ler a língua do napë. “O Monte Roraima não é tão importante quanto o Sinai”, eles vão dizer.
Libélula grande pousou em tua aldeia. Dentro o comandante do exército. Na praça fincou uma bandeira. Outra. Não mais tuas verdes folhas. Disse que era para segurança do país. Ensinou a assoviar o hino nacional. Piasan veio, baforou fumaça, e disse: “coloca pimenta no ânus do menino, para crescer esperto, pra saber diferenciar o feio do belo, o falso do verdadeiro”.
Escuta menino, as histórias de teu pajé! “Primeiras estrelas saíram do céu da boca e do cachimbo”. Ouve estas histórias à beira fogo, aprende com elas. Curumim, tira teu beiju de tapioca do sol[4], tira a muda da maniva, y lleva a tus hermanos. Vai visitar teus parentes que não reconhecem estas fronteiras. Aproveita que por lá com apenas cinco bolívares tu llenas el tanque de combustible de tu carro.
Ai! brinca, ai! bebe caxiri, ai! toma banho no rio e viaja de avião. Viaja de avião e caminha três dias a pé para visitar o teu cunhado. Pega bicho-de-pé. Em tua aldeia a pimenta arde em arte, tropicália de sons e faunas insondáveis. Sobe nos galhos de Wazaká e come caju, banana, mamão, vira fogo e sobe a serra, vira água e desce a corredeira, vira vento, que assim ninguém te pega.
A assembleia está encerrada, menino. Passa pimenta na palavra, com caça, com força. O encontro acabou e os povos vão voltar à suas malocas. Não se preocupe com Macunaima. Ele adormece invisível em um verso autofágico deste poeta. Envelheças o rapé de paricá e ressoe sonoro estes escritos. Amanhã Vovó Sapa vem brincar na água.
Texto: Priscila Borges e Vinícius de Carvalho
[1]Na República Cooperativista da
Guiana alguns crimes são unidos com Pena de Morte, acontecendo a diversos
indígenas, guianenses e brasileiros.
[2] Rito sincrético
indígena-cristão, herança das missões prestantes na tríplice fronteira de
Brasil, Venezuela e Guiana.
[3] Peixe-elétrico.
[4] Dentro de Wätunnä - ciclo de
história do povo Ye’kuana – há uma profecia que diz que o Sol vigia se ainda há
beiju a secar nos telhados. Quando as
mulheres não colocarem seus beijus pra secar ao sol, saberão que não há mais
ye’kuanas no mundo, que será destruído por catástrofes.
terça-feira, 3 de abril de 2012
Panela Macuxi
A cerâmica é o artesanato mais representativo das mulheres macuxis, principalmente daquelas da região da Raposa. Tradicionalmente eram produzidas somente panelas, hoje outros produtos, como jarros, potes e pratos, surgem da criatividade e das mãos habilidosas das artesãs.
O processo de fabricação das panelas se inicia no momento da retirada do barro. As mulheres relatam que as ceramistas mais antigas obedeciam a um ritual para retirada do barro, que compreendia em pedir licença ao dono do barro, passar urucum no corpo, passar e comer pimenta e fazer certas orações.
Apesar de ser um artesanato reconhecido localmente, as artesãs ainda têm muita dificuladade na comercilaização de seus produtos, e não possuem uma organização ou cooperativa que possibilite maior acesso ao mercado.
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